Fungo que está a matar os anfíbios inibe a sua resposta imunitário
Estudo revela que fungo não só diminuiu produção de
linfócitos como também os mata.
O fungo Batrachochytrium dendrobatidis é responsável pela
quitridiomicose, doença tida como uma das principais causas de declínio das
populações de anfíbios em todo o mundo. O grupo a que pertence este fungo, o
filo quitridiomicota, está entre os mais antigos grupos de fungos conhecidos. É
geralmente representado por fungos saprófitos (que se alimentam de matéria
morta) e alguns parasitas de plantas e invertebrados, mas o Batrachochytrium
dendrobatidis é o único que parasita vertebrados, especificamente anfíbios.
Vários estudos têm procurado descobrir de que forma actua a infecção. Na
revista Science desta sexta-feira, a equipa de Scott Fites e Jeremy Ramsey, da
Universidade de Vanderbilt, em Nashville (EUA), conclui que como este fungo
afecta o sistema imunitário.
O estudo pretende perceber como é que o Batrachochytrium
dendrobatidis inibe a resposta imunitária nos organismos. “Os anfíbios têm um
sistema imunitário complexo, quase tão complexo como o dos humanos, portanto
deviam conseguir detectar e eliminar o fungo”, afirma a imunologista Louise
Rollins-Smith, também investigadora nesta equipa, citada num comunicado de
imprensa.
De facto, os macrófagos e neutrófilos, responsáveis por
“comer” os agentes infecciosos, continuam a funcionar, mas os linfócitos,
responsáveis por detectá-los e eliminá-los, são inibidos.
A infecção por B. dendrobatidis ocorre nas células da camada
superior da pele dos anfíbios, onde se localiza a maior parte da queratina,
proteína responsável por tornar a pele mais resistente e por formar pêlos e
penas, em mamíferos e aves, respectivamente. Este fungo citríco altera a
produção de queratina, tornando a pele mais grossa: compromete as trocas
gasosas (respiração cutânea característica nos anfíbios), levando à morte por
asfixia, e dificulta a absorção de minerais, que pode levar a um colapso
cardíaco.
Normalmente, depois de uma infecção, o organismo produz uma
resposta imunitária, mas nos casos de infecção com B. dendrobatidis não há
activação da resposta, não há produção de linfócitos, ou a sua proliferação é
inibida. Os líquidos extracelulares produzidos pelo fungo têm o mesmo efeito,
mesmo na ausência das células que os produziram. Mostrou-se, também, que o
fungo tem influência na morte prematura das células. Por outro lado, ensaios
com os esporos do fungo mostraram que estes não causam infecção.
Há já alguns tratamentos contra a quitridiomicose, usando,
por exemplo, antifúngicos, mas não tornam os animais imunes à doença e assim
que forem libertados na natureza poderão voltar a ficar infectados.
Existem também algumas espécies que são vistas como
resistentes à infecção, o que as torna vectores privilegiados para sua
disseminação. A rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis) e a rã-touro-americana
(Lithobates catesbeianus) são, neste momento, consideradas responsáveis pela
dispersão da doença, porque nos anos de 1950 eram usados em laboratórios de
todo o mundo como “testes de gravidez”.
Em laboratório experimentou inibir-se a acção do fungo pelo
calor, com ácidos e com enzimas capazes de destruir as proteínas da parede
celular, mas nenhum método obteve resultados positivos. Só a utilização de
químicos que interferem na construção das paredes celulares das células do
fungo conseguiram reduzir a sua acção nefasta no sistema imunitário,
evidenciando que o agente tóxico estaria na parede celular. Por outro lado, o
B. dendrobatidis mostrou-se eficaz no controlo do crescimento e na morte de
células cancerosas humanas e células do ovário de rato.
Este artigo serve assim dois propósitos, um caminho a seguir
na identificação dos agentes responsáveis pela inibição do sistema imunitário
dos anfíbios e uma nova possibilidade para a criação de agentes capazes de
destruir infecções tumorais, conforme refere o comunicado.
link:http://forum.netxplica.com (visualizado em 27/02/2017)
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