quinta-feira, 9 de março de 2017

Por que é que algumas células resistem ao VIH?

Por que é que algumas células resistem ao VIH?

Cientista portuguesa esclarece mecanismo que torna células da pele naturalmente resistentes ao vírus da sida. A descoberta pode permitir novas estratégias de prevenção e destruição do vírus.


Já se sabia que as células de Langerhans, presentes na epiderme, funcionavam como uma “barreira natural” ao VIH, mas faltava ainda perceber o mecanismo que usam para destruir o vírus e impedir que ele invada o organismo. O segredo para derrotar o vírus está numa proteína que existe nestas células e que é um factor de restrição do VIH, causando-lhe assim obstáculos. A descoberta pode servir para desenvolver novos métodos preventivos e também para destruir o vírus após a infecção.

As células de Langerhans são abundantes na epiderme e funcionam como vigilantes do nosso sistema imunitário, sendo responsáveis por capturar microrganismos como bactérias e vírus. As Langerhans são também umas das primeiras células que interagem com o VIH após contacto sexual, encontrando-se em tecidos como a vagina, o prepúcio ou o intestino.

Consórcio liderado por portugueses investiga moléculas que impedem VIH de entrar nas células
Consórcio liderado por portugueses investiga moléculas que impedem VIH de entrar nas células
“Nestas células, o VIH-1 é destruído por um processo chamado ‘autofagia’, que ocorre dentro das células e é capaz de digerir micróbios como uma trituradora. A autofagia é activada nas células de Langerhans através da acção de um factor restritivo que é funcional apenas neste tipo de células. O mesmo factor restritivo não funciona noutras células, sendo estas por consequência infectadas com VIH”, explica Carla Ribeiro, investigadora do Centro Médico Académico, em Amesterdão, na Holanda, e uma das autoras do artigo publicado na revista Nature.

O processo de autofagia ocorre em diferentes tipos de células e a sua descoberta valeu a Yoshinori Oshimi o Prémio Nobel da Medicina de 2016. Este mecanismo de “defesa” que ocorre no interior das células “resulta na eliminação de organelos (componentes da própria célula) obsoletos ou envelhecidos, funcionando como um processo de limpeza e reciclagem do próprio conteúdo intracelular, que contribui para a sobrevivência das células”, explica a investigadora. Por outro lado, adianta Carla Ribeiro, “este mesmo processo de autofagia é também usado como um mecanismo de destruição de micróbios que são capazes de entrar células humanas, como por exemplo bactérias e vírus”.

"Ligar" a reciclagem noutras células

Num artigo publicado na revista Nature Medicine em 2007, a mesma equipa de investigadores, liderada por Theo Geijtenbeek, do Centro Médico Académico, referia que determinadas células do sistema imunitário são naturalmente resistentes ao VIH. “Neste nosso recente artigo publicado na Nature, descobrimos que esta activação da autofagia é responsável pela resistência destas células”, diz Carla Ribeiro ao PÚBLICO.

Desta vez, os investigadores investigaram um factor restritivo (a proteína TRIM5-alfa), descrito pela primeira vez em 2004, por outra equipa. “Nesse artigo demonstrava-se que macacos não são infectados por VIH por causa deste factor. Mas até agora ninguém reconheceu uma função para o TRIM5-alfa nos humanos. Nós demonstrámos pela primeira vez que este factor é funcional em determinadas células humanas, as células de Langerhans”, explica a investigadora.

Este factor restritivo está presente nestas células, mas também noutras que são normalmente vulneráveis ao VIH. Mas só nas células de Langerhans é que esta proteína tem a capacidade de "ligar" o processo de limpeza celular da autofagia e, assim, eliminar o vírus da sida. “O próximo passo é tentar activar a função molecular deste factor nestas células para desencadear autofagia em células normalmente vulneráveis ao VIH e torná-las por consequência resistentes ao vírus”, refere Carla Ribeiro.

A descoberta pode não só ajudar a perceber por que razão algumas pessoas são aparentemente mais susceptíveis ao VIH, mas também pode servir para testar novas estratégias de tratamento. O objectivo será, assim, tentar “activar” o mesmo tipo de reacção desta proteína noutras células onde ela também está presente. No entanto, é preciso fazer mais investigação nesta área para que novas terapias possam ser desenvolvidas.

Segundo Carla Ribeiro, antes deste estudo a equipa do Centro Médico Académico já tinha demonstrado que as células de Langerhans também são resistentes ao vírus do sarampo. “Neste momento também estamos a investigar se a autofagia contribui para a resistência destas células ao sarampo.”

Portugueses estudam antibiótico encontrado em bactéria dos Açores

Portugueses estudam antibiótico encontrado em bactéria dos Açores

Uma equipa de cientistas portugueses conseguiu pela primeira vez produzir mais facilmente uma classe de antibióticos, os chamados lantibióticos. Fez isso com uma substância de um bacilo encontrado nos Açores, esta molécula combate bactérias resistentes.


As fontes hidrotermais dos Açores foram o início da história que terminou este ano, com a publicação de um artigo na revista Chemistry & Biology. Foram nestas fontes que Sónia Mendo, professora da Universidade de Aveiro e coordenadora do trabalho, encontrou em 2000 o Bacillus licheniformis, durante o seu doutoramento. “As fontes hidrotermais são habitats adversos em que vamos encontrar organismos com capacidades diferentes do habitual”, explicou Sónia Mendo ao PÚBLICO.

A investigadora descobriu que este bacilo produz a lichenicidina, uma substância que combate duas das bactérias hospitalares mais resistentes: o Staphylococcus aureus resistente à meticilina e Enterococcus resistente à vancomicina.

A lichenicidina é interessante porque é uma molécula que faz parte dos lantibióticos, uma das várias classes de antibióticos, que se distingue por ter na sua composição o aminoácido lantionina.

A molécula identificada nas fontes hidrotermais dos Açores é formada por duas cadeias de cerca de 30 aminoácidos cada. Deste modo, a lichenicidina causa dois efeitos diferentes nas bactérias: impede-as de produzir a parede celular que as envolve e causa buracos na membrana celular deses micróbios, destruindo-os. “Em vez de ter um alvo tem dois, para as bactérias é mais difícil desenvolver resistências.”

O passo seguinte passa pelo estudo deste químico em bactérias manipuladas para haver um aperfeiçoamento da molécula, que poderá assim ser utilizado na medicina. Muito desse trabalho é feito na bactéria Escherichia coli, onde "as manipulações são mais simples”, disse a cientista.

Faz-se isto através da manipulação genética. Identifica-se o gene responsável pela produção do antibiótico na bactéria original, neste caso seria no bacilo hidrotermal, e depois transfere-se o gene para a E. coli. Depois, pode-se substituir aminoácidos no antibiótico, e testar as novas conformações da molécula e aperfeiçoar as suas funções.

O problema é que nunca se tinha conseguido pôr a E. coli a produzir lantibióticos. Era um dogma com 20 anos. Com a lichenicidina foi diferente. “Ao colocar o grupo de genes na E. coli ela produziu a substância”, disse a cientista, que referiu que o trabalho molecular foi feito por Tânia Caetano, também de Aveiro, e tiveram a colaboração da Universidade Técnica de Berlim. Agora a equipa vai poder brincar com a estrutura da molécula e ver o que acontece.

É possível que no futuro este lantibiótico seja aplicado na medicina? “Gostaríamos de chegar a essa fase, mas falta muito tempo”, explicou a cientista. “Ainda não sabemos o mecanismo de acção ou se a substância é tóxica nas células humanas.”

Fungo que está a matar os anfíbios inibe a sua resposta imunitário

Fungo que está a matar os anfíbios inibe a sua resposta imunitário

Estudo revela que fungo não só diminuiu produção de linfócitos como também os mata.


O fungo Batrachochytrium dendrobatidis é responsável pela quitridiomicose, doença tida como uma das principais causas de declínio das populações de anfíbios em todo o mundo. O grupo a que pertence este fungo, o filo quitridiomicota, está entre os mais antigos grupos de fungos conhecidos. É geralmente representado por fungos saprófitos (que se alimentam de matéria morta) e alguns parasitas de plantas e invertebrados, mas o Batrachochytrium dendrobatidis é o único que parasita vertebrados, especificamente anfíbios. Vários estudos têm procurado descobrir de que forma actua a infecção. Na revista Science desta sexta-feira, a equipa de Scott Fites e Jeremy Ramsey, da Universidade de Vanderbilt, em Nashville (EUA), conclui que como este fungo afecta o sistema imunitário.

O estudo pretende perceber como é que o Batrachochytrium dendrobatidis inibe a resposta imunitária nos organismos. “Os anfíbios têm um sistema imunitário complexo, quase tão complexo como o dos humanos, portanto deviam conseguir detectar e eliminar o fungo”, afirma a imunologista Louise Rollins-Smith, também investigadora nesta equipa, citada num comunicado de imprensa.

De facto, os macrófagos e neutrófilos, responsáveis por “comer” os agentes infecciosos, continuam a funcionar, mas os linfócitos, responsáveis por detectá-los e eliminá-los, são inibidos.

A infecção por B. dendrobatidis ocorre nas células da camada superior da pele dos anfíbios, onde se localiza a maior parte da queratina, proteína responsável por tornar a pele mais resistente e por formar pêlos e penas, em mamíferos e aves, respectivamente. Este fungo citríco altera a produção de queratina, tornando a pele mais grossa: compromete as trocas gasosas (respiração cutânea característica nos anfíbios), levando à morte por asfixia, e dificulta a absorção de minerais, que pode levar a um colapso cardíaco.

Normalmente, depois de uma infecção, o organismo produz uma resposta imunitária, mas nos casos de infecção com B. dendrobatidis não há activação da resposta, não há produção de linfócitos, ou a sua proliferação é inibida. Os líquidos extracelulares produzidos pelo fungo têm o mesmo efeito, mesmo na ausência das células que os produziram. Mostrou-se, também, que o fungo tem influência na morte prematura das células. Por outro lado, ensaios com os esporos do fungo mostraram que estes não causam infecção.

Há já alguns tratamentos contra a quitridiomicose, usando, por exemplo, antifúngicos, mas não tornam os animais imunes à doença e assim que forem libertados na natureza poderão voltar a ficar infectados.

Existem também algumas espécies que são vistas como resistentes à infecção, o que as torna vectores privilegiados para sua disseminação. A rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis) e a rã-touro-americana (Lithobates catesbeianus) são, neste momento, consideradas responsáveis pela dispersão da doença, porque nos anos de 1950 eram usados em laboratórios de todo o mundo como “testes de gravidez”.

Em laboratório experimentou inibir-se a acção do fungo pelo calor, com ácidos e com enzimas capazes de destruir as proteínas da parede celular, mas nenhum método obteve resultados positivos. Só a utilização de químicos que interferem na construção das paredes celulares das células do fungo conseguiram reduzir a sua acção nefasta no sistema imunitário, evidenciando que o agente tóxico estaria na parede celular. Por outro lado, o B. dendrobatidis mostrou-se eficaz no controlo do crescimento e na morte de células cancerosas humanas e células do ovário de rato.

Este artigo serve assim dois propósitos, um caminho a seguir na identificação dos agentes responsáveis pela inibição do sistema imunitário dos anfíbios e uma nova possibilidade para a criação de agentes capazes de destruir infecções tumorais, conforme refere o comunicado.

link:http://forum.netxplica.com (visualizado em 27/02/2017)


domingo, 5 de março de 2017

Cientistas conseguem fazer crescer pêlos em ratinhos carecas

Cientistas conseguem fazer crescer pêlos em ratinhos carecas

O elixir da eterna juventude vem aos pedaços. Agora, uma equipa japonesa conseguiu fazer crescer pêlos em ratinhos carecas, com todas as funções. Este desenvolvimento foi feito usando células estaminais adultas da pele, que têm capacidade de originar vários tipos de células. Publicado na última edição da revista Nature Communications, o trabalho é um passo para o fim da calvície.

O segredo foi apostar nas estruturas que dão origem aos folículos capilares - os pequenos invólucros, que existem na pele, de onde nascem os pêlos do corpo e da cabeça.

A formação dos folículos só ocorre durante o desenvolvimento do feto e, quando esta estrutura desaparece, a sua substituição não é possível e os pêlos deixam de crescer.


Mas, até lá, existem células que envolvem o folículo e que durante toda a vida vão produzindo pêlos ciclicamente. A equipa de cientistas, liderada por Takashi Tsuji, da Universidade de Ciências de Tóquio, utilizou as células dos folículos para fazer crescer pêlos. Os cientistas trabalharam com dois tipos de células estaminais dos folículos, umas que estão por baixo da raiz do pêlo e outras mais acima, ao lado do pêlo.

No laboratório, os cientistas juntaram as duas populações de células de ratinho e criaram uma bolinha de células que implantaram na pele de ratinhos carecas. Passados 14 dias, 74% dos 62 animais tratados tinham um tufo de pêlos a crescer saudavelmente no dorso.

Boa densidade capilar

Apesar da "plantação" ter resultado, quase todos os pêlos não tinham pigmentação. Ou seja, nasceram brancos. Mas a equipa conseguiu obter pêlos escuros, adicionando à bolinha células que produziam pigmentos.

Mais: os folículos capilares que se desenvolveram tinham ligações nervosas, glândulas sebáceas e fibras musculares associadas, o que permite que os pêlos se ericem, como acontece quando temos frio.

Tal como os folículos naturais, a equipa de Takashi Tsuji verificou ainda que os novos folículos originavam ciclos de crescimento e de morte dos pêlos. Estes ciclos, refere Tsuji num comunicado, mantiveram-se durante quase um ano.

"Pensamos que os folículos capilares construídos por bioengenharia podem funcionar durante o tempo médio de vida", diz. É assim uma plantação duradoura.

Numa outra experiência, os cientistas testaram o que aconteceria se construíssem bolinhas com células de folículos capilares de um homem com alopécia, o nome técnico da calvície, comum no sexo masculino.

Implantaram essas células nos ratinhos e, em 21 dias, cresceu cabelo escuro. Um resultado que é animador para o tratamento deste problema.

Para testar se seria possível ter uma densidade capilar boa, o que significa entre 60 a 100 pêlos por centímetro quadrado, a equipa fez ainda outra experiência: implantou 28 bolinhas de células de ratinho num centímetro quadrado da pele de três animais. E obteve bons números: em média, nasceram 124 pêlos.

"Estes resultados indicam que o transplante de folículos capilares feitos através da bioengenharia podem ser aplicados no tratamento da alopécia", conclui o artigo.

Num comentário feito na revista Nature, Mayumi Ito, dermatologista de Nova Iorque, sublinha que este é o primeiro relato da reconstituição de folículos capilares com células humanas. Para Mayumi Ito, falta agora a equipa mostrar que consegue disseminar os folículos capilares numa região maior.

link:http://forum.netxplica.com/viewtopic.php?t=17070 (visualizado em 27/02/2017)

Filhos de homens mais velhos têm mais mutações no seu genoma

Filhos de homens mais velhos têm mais mutações no seu genoma

Um estudo na Islândia mostra que, a cada ano que passa, os espermatozóides do pai têm, em média, mais duas mutações novas no seu genoma que transmitem aos filhos. O trabalho é publicado na revista Nature.

O reservatório do genoma está em cada pessoa na Terra. A cada geração, misturam-se cromossomas de mulheres e homens – onde estão os genes para construir um ser humano – e uma nova fornada de pessoas é concebida. Mas não sem um preço. Um estudo que analisou genomas de islandeses mostra que os filhos de homens mais velhos recebem um genoma paterno com mais mutações, que surgiram entretanto, do que os filhos de homens mais novos. Estas mutações podem estar associadas a doenças mentais, como o autismo e a esquizofrenia, defendem os autores num artigo hoje na revista Nature.

A idade da reprodução é uma condicionante na mulher: está limitada a ter filhos até à menopausa e há um risco acrescido de ter crianças com deficiências depois dos 35 anos. O homem mantém-se fértil até perto do final da vida, mas há um custo.


Para que todos os dias tenha espermatozóides novos, as células progenitoras dos espermatozóides têm de estar a dividir-se continuamente. Em cada divisão, todo o genoma é copiado: a célula utiliza uma enorme maquinaria para copiar, tijolo a tijolo, a molécula de ADN que forma os 23 pares de cromossomas humanos e que contêm todos os genes. A evolução arranjou muitas formas de assegurar que esta replicação do ADN fosse perfeita. Mas, de vez em quando, há tijolos que são mal copiados e, no fim, obtém-se um genoma quase igual mas com mutações.

No caso das células sexuais femininas, esta divisão celular dá-se só no desenvolvimento embrionário. Quando as mulheres nascem, já têm todos os ovócitos de que precisam. A partir da puberdade, em cada mês, uma célula perde metade dos cromossomas para poder ser fecundada. Quanto mais velho for esse ovócito, maior é a probabilidade de haver alterações graves no ADN que provocam deficiências no embrião.

No caso dos homens, a divisão das células que vão dar origem aos espermatozóides mantém-se e as mutações no ADN podem assim acumular-se nessas células, de uma divisão para outra. "A maioria destas mutações são neutras, algumas são nocivas e, muito raramente, uma delas é benéfica", diz Kari Stefansson, ao PÚBLICO, líder da equipa da investigação da empresa deCODE, com sede em Reiquejavique, na Islândia, que estuda o genoma humano.

Estudos epidemiológicos tinham mostrado que homens que tinham filhos em idades mais avançadas transmitiam-lhes mais mutações associadas ao autismo. A equipa de Stefansson conseguiu, pela primeira vez, quantificar este aumento de mutações que eram inexistentes na geração anterior. "Existem duas mutações novas por ano, à medida que o homem envelhece", refere.

A equipa estudou o genoma de 78 filhos de casais que foram pais em diferentes idades. A grande maioria destes filhos tem autismo ou esquizofrenia. Procuraram por mutações nos tijolos de ADN que não existiam nem nos pais, nem nas mães, e que por isso teriam de ter sido originadas nas células sexuais de um dos pais. Depois, identificaram se tinham ocorrido no pai ou na mãe.

Descobriram que, em média, cada pessoa tem 60 mutações novas que não existiam na geração anterior. Quinze são da mãe e as restantes do pai, mas em função da sua idade. Um homem com 20 anos passa 25 mutações novas à descendência, enquanto um homem com 40 anos transmite 65. "É graças às mutações que vai surgindo nova diversidade no genoma humano e 97% dessa variação está relacionada com a idade do pai", explica o investigador.

A equipa estima que apenas 10% destas mutações novas tenham efeitos negativos e verificou que algumas estão associadas à esquizofrenia ou ao autismo. Uma das mutações identificada foi no gene NRXN1 – que comanda o fabrico de uma proteína que funciona no sistema nervoso – e que foi associado à esquizofrenia. A nova mutação faz parar a produção da proteína a metade.

Ainda não se sabe quais serão os efeitos deste fenómeno na saúde. "Apesar de a maioria destas mutações serem benignas do ponto de vista individual, colectivamente poderão ter um impacte sério na saúde", defende Alexey Kondrashov, investigador da Universidade de Michigan, nos EUA, num comentário da Nature.Uma idade para ser pai?

Kondrashov lembra que a diminuição da mortalidade infantil está a atenuar a selecção natural. De geração em geração, a população pode estar a acumular mutações negativas e uma das consequências pode já estar a sentir-se. "São usados mais genes no cérebro do que noutro órgão, o que significa que a fracção de mutações que o afectam é maior. O aumento da prevalência do autismo em muitas populações humanas pode ser, em parte, devido ao acumular de mutações", diz o cientista.

Para Isabel Alonso, investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto, a importância deste estudo centra-se na quantificação deste fenómeno. "Ainda não podemos tirar grandes ilações. Tem sempre que se replicar a experiência noutras populações, porque a taxa de mutações pode ser diferente na população brasileira, francesa ou na nossa", refere a especialista em genética humana.

No último século, a Islândia sofreu mudanças sociais como a migração do campo para a cidade, que diminuiu a idade média dos homens na altura de serem pais. Entretanto, a tendência já se inverteu. Este estudo leva a reflectir sobre a paternidade. "Confirma que não é saudável ser-se pai a partir de uma certa idade", considera Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. "O genoma pode ser alterado pelo ambiente, não é estático."

Darren Griffin, professor de genética na Universidade de Kent, no Reino Unido, discorda: "Não é necessário os futuros pais mais velhos ficarem preocupados. Há 3000 milhões de letras no ADN, o estudo detectou mutações só nalgumas dúzias", diz.

Mas Kari Stefansson não tem dúvidas sobre as implicações das mutações: "Quando aparecem, vão manter-se na população e ter efeitos na diversidade humana."

link;http://forum.netxplica.com/viewtopic.php?t=17691 (visualizado em 27/02/2017)

Cientistas preparam cimeira internacional sobre nova técnica de manipulação do ADN

Cientistas preparam cimeira internacional sobre nova técnica de manipulação do ADN

A iniciativa parte dos EUA e pretende criar um fórum global e aberto à sociedade para discutir as implicações, éticas e outras, da eventual utilização da técnica no ser humano.

A Academia Nacional de Ciências (NAS) e a Academia Nacional de Medicina (NAM) dos Estados Unidos acabam de anunciar a sua intenção de elaborar rapidamente recomendações sobre o uso de uma nova tecnologia de manipulação do genoma que poderia um dia permitir a geração de bebés “feitos à medida”.

Esta iniciativa vem na sequência do anúncio, feito por cientistas chineses em Abril, de que tinham aplicado a nova técnica, designada por CRISPR-Cas9, à modificação do ADN de embriões humanos. Mais precisamente, tinham “editado” um gene, chamado HBB, cujas mutações provocam uma doença do sangue, a beta-talassemia, potencialmente mortal.

Os embriões utilizados por esses cientistas não eram viáveis e nunca teriam dado origem a uma criança. Mas mesmo assim, a revelação desencadeou um grande debate na comunidade científica – e provocou a expressão de muitos receios, por parte de uma série de especialistas, quanto às possíveis consequências, não só médicas, como também éticas e sociais, da utilização da dita técnica de “edição” do genoma no ser humano.

Os vários especialistas justificam essa preocupação pelo facto de que este tipo de manipulação genética não diria respeito apenas ao organismo cujos genes seriam alterados, mas a toda a sua descendência por aí em diante. Trata-se, por outras palavras, de uma manipulação genética da linha germinal, muito mais radical do que se costuma chamar de “terapia genética” e em que o alvo da manipulação genética são células do corpo de uma única pessoa com o objectivo de tratar ou curar uma doença.

Os receios também surgem porque nos EUA, embora o financiamento público da experimentação com embriões humanos esteja proibido, vários governos estaduais permitem a sua realização com fundos privados. Já em Portugal, a Lei nº 32/2006 de 26 de Julho sobre procriação medicamente assistida permite a experimentação com embriões humanos para fins de investigação médica, mas os projectos científicos têm de ser aprovados caso a caso pela autoridade competente e a sua potencial utilidade terapêutica tem de ser indiscutível.


Seja como for, dado que a nova técnica é, ao contrário de outras, bastante fácil de pôr em prática, existe o receio de que ela possa vir a ser aplicada por qualquer biólogo amador, por assim dizer “na sua garagem”, para gerar bebés com atributos físicos e/ou mentais desejáveis. Um cenário de tipo Gattaca que, apesar de ser por enquanto extremamente remoto (a técnica não funciona bem), não deixa de inquietar muita gente.

Segundo uma notícia publicada no início desta semana no site da revista Nature, as duas academias norte-americanas tencionam organizar, já no próximo Outono, uma cimeira internacional que inclua cientistas, especialistas de bioética, grupos de doentes e outros grupos da sociedade para abordar todas estas questões.

E segundo a agência de notícias Reuters, a NAS – entidade honorária criada pelo Congresso norte-americano em 1863 que realiza estudos para o governo federal – também decidiu nomear um comité internacional e multidisciplinar que irá estudar as bases científicas, bem como as implicações éticas, legais e sociais, da manipulação genética da linha germinal em humanos. “Já liderámos no passado a reflexão sobre áreas científicas emergentes e controversas, tais como a investigação com células estaminais embrionárias e a clonagem humanas”, declararam em comunicado conjunto Ralph Cicerone, presidente da NAS, e Victor Dzau, presidente da NAM. “Estamos preparados para trabalhar com as comunidades científica e médica de forma a conseguirmos perceber totalmente a edição do genoma humano e as suas implicações.”

Todavia, a aceitabilidade deste tipo de manipulação genética para fins terapêuticos não parece estar em causa – desde que seja segura para o futuro bebé e que permita tratar doenças graves para as quais não existe outra opção terapêutica. Esta visão, bastante consensual, está patente na edição de Maio da revista Nature Biotecnology, nos comentários de 26 especialistas de bioética, direito, genética, medicina (dos EUA à China, passando pela Europa) acerca de vários aspectos das implicações da técnica CRISPR-Cas9.

Pergunta aquela revista: “Em que casos consideraria a engenharia genética da linha germinal humana eticamente aceitável?” Resposta de Robin Lovell-Badge, reputado geneticista britânico: “Quem recusaria tornar os seus filhos resistentes ao VIH ou ao ébola? (…) Ninguém considera antiético o facto de os pais estarem sempre à procura de formas de conferir vantagens de vida aos seus filhos. E mandar os filhos para uma boa escola também pode ter efeitos transgeracionais.”

Mas não há unanimidade: “Pessoalmente, estou muito preocupada com a ideia de se vir a modificar a linha germinal nos seres humanos”, comenta por seu lado uma das co-inventoras da nova técnica, a francesa Emmanuelle Charpentier (que acha contudo que a questão da segurança é a mais premente). E cita a Convenção Europeia de Protecção dos Direitos Humanos e da Dignidade do Ser Humano, que estipula que apenas podem ser feitas manipulações genéticas terapêuticas “que não introduzam qualquer alteração no genoma de qualquer descendente”.

link:http://forum.netxplica.com/viewtopic.php?t=20303 (visualizado em 27/02/2017)

sábado, 4 de março de 2017

Cientistas descobrem causas da extinção de mamutes

Cientistas descobrem causas da extinção de mamutes

A razão para a extinção dos mamutes pode ter sido uma "explosão mutacional" – um aumento acentuado do número de mutações negativas no seu DNA provocado pela diminuição do número desses animais, dizem os cientistas em um artigo publicado na revista PLOS Genetics.

Segredos da megafauna

Até o momento, não há consenso sobre as causas da extinção da megafauna da era do gelo. Alguns cientistas acreditam que os mamutes e rinocerontes lanudos foram extintos somente por causa das mudanças climáticas, enquanto outros paleontólogos se atêm à hipótese de igual "contribuição" do homem e do ambiente para o desaparecimento dos animais gigantes na Ásia e América.

Recentemente, os paleontólogos encontraram na Sibéria "presas de leite" de vários mamutes, os traços nas quais mostraram claramente que para a extinção destes gigantes, que viveram na Península de Taimyr e no leste da Sibéria, contribuíram os caçadores humanos. Os geneticistas também encontraram traços de degenerescência no DNA dos últimos mamutes da Terra na ilha de Wrangel e outros cientistas — indícios de que estes animais poderiam ter morrido de sede.
Rogers e seu colega Montgomery Slatkin ficaram interessados nos indícios de degenerescência no DNA e decidiram ver a velocidade com que as mutações se acumularam em genes de mamutes nos últimos mil anos de sua existência na Terra.


Nisso eles foram ajudados pelos novos genomas de mamutes publicadas por colegas. Alguns dos animais que eles examinaram viveram na época do auge de mamutes em Yakutia, na vizinhança de Oymyakon, cerca de 45 mil anos atrás, enquanto outros viveram em Chukotka e na ilha de Wrangel nos últimos dias de sua existência na Terra, há 4,3 mil anos.

A ameaça secreta de extinção
Ao comparar os genomas dos mamutes uns com os outros, bem como com o DNA de elefantes indianos, os cientistas contaram todas as suas mutações prejudiciais — súbitas "quebras" de genes, genes com grandes áreas remotas do código genético e vários danos leves. Como se descobriu, o genoma do mamute da ilha de Wrangel continha um número desproporcional de tais mutações, que se acumularam mais do que deveria ser no curso normal da evolução.

Os últimos mamutes da Terra perderam assim uma grande quantidade de receptores olfativos, bem como os genes associados à síntese de vitaminas e outras moléculas vitais. Além disso, o pelo dos animais se tornou transparente devido à perda do gene FOXQ1. No mais, foi interrompido o funcionamento de quase três mil genes de mamute relacionados com a "leitura" do DNA dentro da célula e a produção de moléculas de proteína.
As peculiaridades na distribuição destas mutações, de acordo com Rogers e Slatkin, apontam ao fato de que elas apareceram quase simultaneamente no genoma das últimas gerações de mamutes da Terra. Pode se dizer que eles viveram uma espécie de "explosão mutacional". Esta explosão, de acordo com os cientistas, acelerou a extinção de mamutes e levou à sua morte no momento em que o clima da ilha de Wrangler começou a mudar. Curiosamente, os traços da mesma extinção acelerada foram registrados por biólogos no genoma de elefantes indianos, cujo número diminuiu nos últimos anos.
Esta descoberta vai ajudar a revelar as possíveis causas da extinção de mamutes e também indica que a sobrevivência de pequenos grupos de animais em ilhas e em outros sistemas ecológicos isolados não são suficientes para a recuperação da população. O acentuado declínio da sua diversidade genética, e a "explosão mutacional" que lhe está associada, não vão permitir aos animais recuperar sua quantidade após o surgimento de condições adequadas para a sua vida em outras partes do mundo, concluem os cientistas.

link:https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia (visualizado em 27/02/2017)

Um maço de tabaco por dia causa 150 mutações genéticas por ano

Um maço de tabaco por dia causa 150 mutações genéticas por ano nos pulmões:

Pela primeira vez, estabeleceu-se uma ligação directa entre o número de cigarros fumados e o número de mutações que isso provoca no ADN e que, mais tarde, poderão terminar em cancro.
Que o tabaco mata já não é novidade. Que o cancro é causado por mutações no ADN também já se sabia. O que agora se encontrou pela primeira vez foi uma relação directa entre o número de cigarros fumados e o número de mutações no ADN. Se fumar um maço de cigarros por dia, ao fim de um ano terá provocado nas células dos seus pulmões, em média, 150 mutações genéticas, o que aumenta o risco de cancro – conclui este trabalho publicado esta sexta-feira na revista Science.

Se há produto constituído por substâncias tóxicas e irritantes, é um cigarro. Ao todo, têm cerca de 7000 substâncias químicas, 70 das quais são cancerígenas. Nas estimativas da Organização Mundial da Saúde, todos os anos morrem pelo menos seis milhões de fumadores e até ao final deste século prevê-se que sejam mais de 1000 milhões.


Uma investigação científica coordenada pelo Laboratório Nacional de Los Alamos (Estados Unidos) e pelo Instituto Sanger (Reino Unido), em colaboração com investigadores do Japão, da Coreia do Sul, de Itália e da Bélgica, identificou algumas mutações genéticas provocadas pela exposição, tanto directa como indirecta, ao fumo do tabaco.

“Até agora, tínhamos um largo corpo epidemiológico sobre a relação do fumo com o cancro. Neste momento, também observámos e quantificámos as mudanças moleculares no ADN para quem fuma cigarros”, sublinha em comunicado um dos autores do estudo, Ludmil Alexandrov, investigador de Los Alamos.

Ao todo, a equipa sequenciou o genoma de 5243 cancros. Os cientistas conseguiram determinar que, entre as pessoas que tiveram aqueles cancros, havia 2490 fumadores e 1063 não fumadores e foram estes dois grupos que foram comparados. Quais são então as diferenças nas células dos fumadores e dos não fumadores? E a conclusão a que se chegou, usando um software para reconhecer padrões nas mutações genéticas, é que essas mutações são mais elevadas nos fumadores. Num vídeo, Ludmil Alexandrov explica a investigação.
O número de mutações nocivas causadas pelo tabaco é alarmante, sobretudo nas células dos pulmões, onde os cientistas contabilizaram as já mencionadas 150 alterações genéticas. “Este número é extremamente elevado e aumenta enormemente o risco de desenvolver cancro dos pulmões nos fumadores”, frisa Ludmil Alexandrov ao PÚBLICO.

Um maço de tabaco por dia também é responsável por mutações genéticas noutros órgãos ao final de um ano, concluiu ainda esta investigação: em média, 97 na laringe, 39 na faringe, 23 na boca, 18 na bexiga e seis no fígado.

Neste momento, o tabaco está ligado a 17 tipos de cancros. Ao longo do estudo, identificaram-se mais de 20 mutações específicas associadas a esses 17 cancros. Essas mutações são assinaturas deixadas no ADN pelo tabaco. Contudo, apenas cinco destas mutações são muito frequentes nos fumadores.

Link:https://www.publico.pt/2016/11/03/ciencia/noticia (visualizado em 27/02/2017)