Nasceu o primeiro bebé “filho” de três pessoas
27 set, 2016 - 17:12
Aconteceu no México, pela mão de cientistas
norte-americanos, que aproveitaram vazio legal. O objectivo deste procedimento
“in vitro” é evitar a transmissão de determinadas doenças das mitocôndrias,
herdadas apenas através da mãe.
Nasceu no México o primeiro bebé por fertilização “in vitro”
fruto do material genético de três pessoas, revelou esta terça-feira a revista
britânica da especialidade “New Scientist”.
A utilização do material genético de três pessoas para a
reprodução só tem, actualmente, enquadramento legal no Reino Unido, desde
Outubro de 2015. Uma equipa norte-americana a trabalhar no México aproveitou o
facto de não existir legislação sobre a matéria nesse país, disse o chefe da
equipa, John Zhang, à revista.
Segundo os cientistas, o objectivo deste procedimento é
evitar a transmissão de determinadas doenças das mitocôndrias, as chamadas
“baterias” das células herdadas apenas através da mãe. Um bebé nascido através
deste procedimento tem, assim, duas “mães” e um pai genético.
O nascimento do rapaz, agora com cinco meses de idade, “é
revolucionário”, de acordo com a equipa de investigadores.
A técnica controversa, que permite que os pais com mutações
genéticas raras tenham bebés saudáveis, só foi legalmente aprovada no Reino
Unido, segundo a revista. Mas, garante a “New Scientist”, o nascimento da
criança, cujos pais, naturais da Jordânia, foram tratados por uma equipa
norte-americana de embriologistas, deve traduzir-se num progresso em todo o
mundo.
A mãe do bebé é portadora da síndrome de Leigh, uma doença
que afecta o sistema nervoso em desenvolvimento. Os genes para a doença residem
no ADN na mitocôndria, que é separada da maior parte do nosso ADN, alojado no
núcleo de cada célula.
Cerca de um quarto de suas mitocôndrias têm a mutação
responsável pela doença. A síndrome de Leigh foi responsável pelas mortes dos
dois primeiros filhos da mulher. O casal procurou então a ajuda de John Zhang
no Centro de Fertilidade New Hope, em Nova Iorque.
O método aprovado no Reino Unido, segundo explica a “New
Scientist”, chama-se transferência pro-nuclear e envolve a fertilização do
óvulo da mãe e de um óvulo dador com o esperma do pai. Antes de os óvulos
fertilizados começarem a dividir em embriões, em estágio inicial, cada núcleo é
removido. O núcleo do óvulo fertilizado do dador é descartado e substituído
pelo do óvulo fecundado da mãe.
Mas esta técnica não era apropriada para o casal -- como
muçulmanos, opunham-se à destruição de dois embriões. Então, Zhang experimentou
uma abordagem diferente. Removeu-se o núcleo de um dos óvulos da mãe e
inseriu-se num óvulo dador cujo núcleo tinha sido também removido. O óvulo
resultante, com o ADN nuclear da mãe e o ADN mitocondrial de um dador, foi
então fertilizado com o esperma do pai.
A equipa de Zhang usou esta abordagem para criar cinco
embriões, dos quais apenas um se desenvolveu normalmente. Este embrião foi
implantado na mãe e a criança nasceu nove meses depois. Nenhum método foi
aprovado nos EUA, por isso Zhang escolheu ir para o México, onde diz que
"não há regras".
A preocupação que subsiste é a segurança. Os últimos
embriologistas que tentaram uma variação deste método quiseram criar o ADN do
bebé através de três pessoas, na década de 1990, quando injectaram ADN
mitocondrial de um dador no óvulo de outra mulher, juntamente com o esperma de
seu parceiro. Alguns dos bebés passaram a desenvolver doenças genéticas, e a
técnica foi proibida.
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